Ó.Ò

Data 13/11/2008 15:31:55 | Tópico: Poemas -> Infantis

Vou contar-lhes a aventura
Que todos nós já vivemos,
Mas guardamos na clausura
Das coisas que já esquecemos:

É a historia duma semente
Qu' um dia encontrou um ninho
E que, muito docemente,
Se fez fruto de carinho.

Essa semente fui eu,
Que me fiz vida e esperança,
O imenso céu era meu,
Destino certo: criança!

Estava eu, enroscadinha,
No ventre da nave-mãe,
Viajando bem quentinha
Num universo sem além,

Quando viva tempestade
Me trouxe a um mundo novo,
E me fez chorar saudade
P'lo aconchego do meu ovo...

Solavancos foram tantos!,
Tal a tormenta e maré,
Que julguei, p'ra meu espanto,
Ter naufragado a galé!

Estranhei a confusão,
O frio, os seres estranhos,
E aquela severa mão
Que fez chorar baba e ranho...

"Mas o que é isto? - pensei,
A que praia eu vim parar?
Exijo saber da lei,
Quem me obriga a aqui ficar?"

Na luz que me ofuscou
Vi então uns olhos meigos,
E a Vida começou
A' ninhar-me em aconchego.

Era tão doce o querer
Desses olhos, desse porto,
Que comecei a aprender
Que respirar é conforto...

Aprendi também o gosto
Do toque de amor e seda
Colo de mãe, doce encosto,
Nada há que o exceda!

Soube logo, desde então,
A Mãe-terra que eu olhava,
Era verso, chuva e pão,
Que de amor me alimentava!

Não mais quero naufragar
Os caminhos que me prendem
Ao jeitinho de chorar
Que só as mães compreendem!




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