O que eu não quero revelar

Data 13/11/2008 20:07:08 | Tópico: Textos

Há coisas que não quero revelar e, no entanto, escrevo-as. Como há quem leia um título destes e se apresse a ler as palavras que se seguem…

Há um mistério difundido nesta frase que aparenta muito mais do que realmente é.
Antes que mais perguntas se soltem, que fiquem cientes que, nestas palavras, não encontrarão nenhuma revelação porque eu não quero. Estamos assim todos esclarecidos.
Quem não quiser continuar a ler, aproveite agora para sair deste texto, antes só meu, e que agora também é seu… mas ninguém abandona o que é seu, mesmo que nada já lhe diga. Não! Abandona. Porque se nada lhe diz, deixou de ser seu, deixou de fazer sentido (como estas palavras demonstram… em que nada faz sentido) por isso, por favor saia deste texto já!

Muito bem. Agora que estamos sós (só tu ficaste aqui, que coragem!), mesmo que não veja o teu rosto (imagina-lo é a sedução que se apresenta de imediato) tu podes ler estas frases pouco alinhavadas mas que preenchem a tua atenção. Podes pensar que nada disto é o que esperavas e que foge ao que costumas ler. Muito bem. Assumo a minha inquietação de escrever tudo, menos o que não quero revelar. Por favor, pede ao teu pensamento para não insistir, pede-lhe porque não vou escrever o que gostavas de ler, aqui e agora. Obrigado.

Agora que o teu pensamento está alinhado e os teus olhos percorrem as letras descompassadamente, talvez seja a melhor ocasião para te dizer que gostava tanto, mas tanto, de escrever coisas lindas, decoradas com poesias e flores de vento. Gostava de pintar o quadro que fosse imortalizado, gostava de esculpir a estátua que marcasse a reviravolta deste mundo e, se tanto tão chegasse, gostava que visses a alegria de um beijo ou a emoção das palavras, das minhas palavras escondidas no que e que não quero revelar…

Agora que estamos sós, em que apenas esta leitura nos separa, talvez fosse o momento oportuno para divulgar-te um segredo que nunca quis revelar, que não quero revelar mesmo que saibas as formas do seu corpo ou as tonalidades do seu olhar, mesmo que sintas o som do seu sorriso, eu fico, aqui perdido entre um lugar esquecido e outro já preenchido e nada digo… Penso e mando dizer ao meu pensamento que não me obrigue a pensar no que quer. Agora que termino este texto, sempre nos limites do não, peço que as palavras fujam da minha mão e que se concentrem num lugar qualquer mas perto é que não!

Já débil de tanto esforço, de tanto proteger a mensagem que não quero que leias, vou, passo após passo, afastando-me deste texto. Já não meu, talvez nunca tenha sido, e também já não seja teu, (será que alguma vez foi?) porque afinal o que não quero revelar é tão-somente algo que eu não podia revelar pela simples condição factual de não estarmos sós, deste texto não ser só nosso, e de poder ter o prazer de conseguir escrever sem ter dito tudo… o que não quero revelar!

Ficou-nos o prazer de imaginar os outros rostos que respiravam sobre os nossos, devolutos, fogem agora insaciáveis na procura de outros textos e de outros segredos por revelar… O que eu não quero revelar, não revelo, nem é preciso, porque tu entendes…

Os outros. Perdoem-me… só porque escrevi…


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