O luso aninhado (visto por trás) II

Data 21/11/2008 12:45:17 | Tópico: Poemas

Não gosto de rimas bacocas,
Amor misturado com dor
Soam-me a palavras ocas
Paliativos de mau humor

Pombas feridas de morte
Atingidas pelo chumbo grosso
Disparado pela má sorte
De seguir esburacado troço

E a pomba não verte sangue
Sai-lhe um doce lírio
Daquela massa exangue
Vertida em fino delírio

Agudizam-se as rimas
Em determinada altura
Morango com limas
Sabor que ninguém atura

Vem isso sempre em cadência
Sublimado em higiénico penso
Digo-vos que não há paciência
Digo-vos por que é o que penso

E massacram esse amor
Em dedicatórias sem fim
Ao gato e ao cão pastor
Ao canário, á vizinha enfim

Acabam por pronunciar
Essa linda palavra amor
Que de tanto lhe malhar
Fica a rimar com bolor

E sentem-se ofendidos
Com um simples palavrão
Fazem ares de triste e feridos
Com a palavra tesão

Pois essa palavra linda
Sim, essa, a tal do tesão
Arredada da rima pimba
Rima muito bem com coração

E já que vos falo em paciência
Deixem lá que aqui vos diga
Deixem-se de torpe demência
Acabem com a triste cantiga

Àh poetas de mau feitio e pedantes
Qualidades a todos vos reconheço
Deixem-se de poemas tratantes
Que nessa usura não me conheço

Usura sim, de tratamento
Mau, calcado e repisado
De ideias só de lamento
De lua e sol decalcado

(um dia continuo)



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