tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Data 25/11/2008 09:28:11 | Tópico: Poemas -> Saudade

No tempo em que eu nasci
havia um relógio de sala
onde o tempo ágil fugia
do pêndulo que balançava...

O tic-tac pausado
não marcava a hora certa,
só demarcava as demoras
da minha rua deserta,
quando o assobio d'alguém
por lá passava a desoras...

No tempo em que eu nasci,
o tic-tac pausado
do meu relógio de sala,
venerava o tempo certo
dos sinos da velha igreja
que acertava pelo sol
rotinas da lida e reza.

Nesse relógio de sala
não morava um cuco sábio,
só um tempinho inocente,
domesticado e dócil,
que ficava sempre à espera,
se se atrasasse a gente.

Tal qual um gatinho manso,
ficava-se, a ronronar,
até que alguém lhe acertasse
às Trindades, o rezar,
ou lhe desse corda solta
pra que os meus sonhos voassem.

Lá longe, onde eu vivi,
o tempo era um passarinho,
fugia ao pêndulo estreito
e vinha, bem de mansinho,
com um trinado no bico
e um sol bonito ao peito


trazer-me o dia nascido
que, em pezinhos de lã,
tentava não me acordar
tão cedo, pela manhã.




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