Ausente dos homens e das flores

Data 24/04/2007 09:49:30 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Ausente dos homens e das flores
vagueio por dentro de um túnel negro do tempo.
Não estou
Não sou
Não quero estar
Não quero ser
E conquanto, num estado de silenciado pranto,
no âmago mais profundo, esquálida
espada emerge lívida. Desejo reles e permanente,
de querer ser ... gente!
Na raiva, aglomero muros, mordo a língua, cerro os dentes,
asfixio a palavra no turbilhão ciclónico da saliva.

Ausente dos homens e das flores
Rebusco um gesto
Um sentido pressentido
Ouso elevar um braço
Iço-me étera no oco do espaço
Dependuro-me equilibrista, acrobata,
no vértice do som mais estridente
Nas estrelas electrizadas,
nas redondas, nas bicudas. Com a boca faço-as mudas.
Silenciadas! Abocanhadas ...
Desço na cauda de um cometa a quem peço alvíssaras e meças.
Respondem-se sempre os ecos escorridos
dos fungos, dos mortíferos cogumelos, dos mais letais,
acantonados nos vitrais da memória.

Ausente dos homens e das cores
apenas o negro pinta as maças do teu rosto
e das flores e dos frutos esqueci há muito recortes, texturas, sabores!




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