Entre as mãos...

Data 10/05/2006 20:30:00 | Tópico: Poemas

Entre as mãos a cabeça
apertada
no espaço deixada feita independência
insanamente livre
a cabeça por sobre a cabeça
Consciência, espia e guardiã
da acção emergente
liberdades sempre condicionais
consciências auto-censuras , o ser possível..

Mãos tenazes e lassas
simultâneas mãos, dúbias qualidades
o pensamento voa preso
papagaio de papel , ás ordens do vento
ao manejo das mãos
o lúdico meninar, intacta cabeça livre
infâncias idas.

Cabeça ao fundo, o mar a praia
na areia fincadas as mãos, âncoras derradeiras
o naufrágio eminente
de ideias transbordantes, cabeça rede
mãos estanques sustendo fluxos brotantes
peixe em estertor
neurónios em novelo
labirinto cerebral
compactas clausuras, as mãos castrantes
a cabeça prisioneira!

A cabeça manietada, algemas no pensamento
mãos temerárias, carentes,
inverosímeis gestos descoordenados. Pensantes
entrelaçadas, descuidadas e já frias de calores gastos.
A cabeça, das mãos fugitiva , errante
em oceanos e firmamentos perdida
consecutivas viagens em velocidade luz
das alturas maiores de miríficos sentires
em abruptas quedas nas profundezas oceânicas
gélidas, negras,
lugar de corações silenciados.

Entre as mãos cabeça
prenhe de todos os pensamentos existentes
geradora de enunciados futuros
o mundo em sobrepeso, esmagador.
As mãos incapazes.
A cabeça no chão rolando no mundo,
incerto rumo, vagamente perdida
em percursos declinantes , em todas as escolhas
livre.

Lúcida , pouco sensata ,irmã de inusitados viveres
o próprio reflexo da loucura, mas
sempre devotadamente livre, em
eternas caminhadas surreais
Despojada, livre andarilho sempre caminhante, das mãos um breve repouso,
rolando no mundo, do tamanho do mundo,
o ogre devorado. Paradoxalmente.
Paradoxalmente autofágica,
entre as mãos as mãos
e a cabeça hipérbole!
Mãos no queixo o mundo na cabeça!



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