
O TRINAR DAS AVES
Data 28/11/2008 16:50:30 | Tópico: Poemas -> Alegria
|
Fruto de uma tremenda insónia, que me fez percorrer o quarto, de lado a lado, mais parecendo um louco embriagado, sofrendo das consequências do intenso frio, a essa hora da madrugada, e sem nada o que fazer, dei o meu peito à rígida natureza, e, sem mais nada ou afrontamentos, abrir a janela.
Não sabendo de onde tal coragem, debrucei-me em seu parapeito, e uma miríade de sons, invadiu meus ouvidos, ainda que meio abafados, pela força fulminante do vento.
Ante mim, à luz trémula, do candeeiro, insectos loucos, de encontro ao néon, perseguia-os os morcegos, enquanto sombras de gatos passavam, como num imaginário surrealista.
Mais abaixo, o róscido, tomando conta das flores do jardim, que envolvem os pobres prédios, fazia tombar as frágeis criaturas, dando-lhes um aspecto desolador, e, nem fixando a vista, cor alguma ressaltava.
Gelado mas corajoso, deixei-me ficar, e pousei meus olhos, nas águas quietas do rio, salpicadas de lâminas de prata, emprestadas pela lua, que se encontrava bem visível, senão arrogante, entre o contraste de sua própria luz, com o negrume bem acentuado da noite.
Até que, sem me dar conta do tempo, vislumbrei, detrás do rio, a horizonte, onde a água casa com o céu, o vermelho do nascer do sol, a que se juntaram as primeiras aves, dirigindo-se para as margens, de um encontro ritualizado.
Agora sim, já sem frio e satisfeito, resolvi-me deitar, fulgia o sol, em toda a sua grandeza, dando razão a um novo dia, que se enchia de trinados.
Jorge Humberto 27/11/08
|
|