
As sobras do tempo
Data 25/04/2007 15:49:57 | Tópico: Poemas
| Hoje sobra-me tempo a mais para dizer o que sinto porque as horas já conhecem os meus gestos de cor e salteado. Acabaram-se os segredos que por ti ainda guardava na manga e todos os coelhos mágicos fugiram da cartola vencidos pelo cansaço. Resta-me os aplausos De um público Ludibriado por meia dúzia de palavras Que ficaram esquecidas E que o vento não soprou.
Então, acho que ficarei calada... Unirei os meus dedos E numa irmandade de sangue Vou costurar os seus corpos De costas voltadas Para que não mais tentem segredar. Talvez o meu silêncio Possa gritar mais alto Que todos os gritos Que nas paredes deixei por engano.
Mete-me raiva este silêncio... Tão cheio de tranquilidade E de certezas falsificadas Em papéis envelhecidos Com a tinta demasiado desbotada Para conseguir ler o que neles ainda dizes. Prefiro não ver a rapidez da tua boca Fingindo que vejo O tempo a passar lentamente Sem saltos bruscos Nem espaços vazios Que se prendam ao infinito no meu olhar. Mas sei que hoje o tempo sobra... Sobra-me tempo... Tempo.. para sentir que todas as palavras de orvalho têm demasiado tempo para murchar abandonadas numa madrugada de pele e osso.
Daniela Pereira
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