Linguagem

Data 09/12/2008 14:17:53 | Tópico: Textos -> Desilusão

Penso...Penso...
Escrevo...Escrevo...
Falo...Falo...
Oiço...Oiço...
Repenso...Repenso...

Vivendo uma vida recheada de simbologias e significados preconcebidos dou por mim amarrado a uma linguagem que não me satisfaz. Tudo o que digo fica aquém do queria/devia dizer e perco-me em atalhos e rodeios que receio fugirem aos temas.
Sinto-me rodeado de dogmas que clamam que os destruam pois estão velhos e decrépitos.
Pensava eu com os meus botões...Como quero eu estar?Melhor que o meu vizinho?Ou sabendo que ele está bem?...Perdido nesta questão interna reparei na lógica irrefutável do meu raciocínio e mais uma vez me vi obrigado o rejeitar a realidade que me rodeia e criar uma nova. Sempre preferi saber que o vizinho está bem a saber que estou melhor que ele e é essa a minha realidade. É impossível para mim viver bem numa esfera disfuncional logo só tenho que ajudar a esfera a funcionar melhor.
Leio livros na ansia de nada saber. Procurando a cada passo desconstruir o anterior.
Quase cegando com o brilho do Sol a comer-me as córneas todo eu sinto uma vida além.
Escolhendo desviar os olhos daquele brilhante hipnotizador acordo a esponja que há em mim e procuro o melhor neste momento saboreando-o tal qual coral filtrando plancton.
Aquilo que somos nao sao as palavras que nos descrevem mas sim os silencios entre elas. Sentido isto como poderei eu falar convictamente do que quer que seja?
Aquilo que sinto pelas palavras só encontra paralelo no que sinto pelas pessoas. Ora as amo ardentemente ora fujo delas como Jesus da cruz.
Querem-me fazer acreditar em valores mais altos, em coisas úteis, em factos concrectos, em verdades universais, quando na verdade eu apenas quero o silencio, a paz, a contemplaçao, o AMOR.
Ainda há umas meras dezenas de milhares de anos sussurávamos a medo, grunhiamos de prazer ou berrávamos de terror ou fúria e assim a vida corria simples.
Hoje sao milhoes de púlpitos e pregadores a cada esquina.Um televisao para cada alma.
E palavras, muitas palavras,iradas,confusas,compadecidas,sofridas,difusas,meigas,leigas ou eruditas todas tao válidas e bonitas como ocas e finitas. As vozes sao demais para um Homem ter vontade de falar.
Algo desiludido comigo mesmo sento-me a escrever e encontro-me novamente.
Encontro quem sempre fui. Quem nem sabia que era. Quem morria se fosse. Quem matava para ser.
As palavras podem encerrar um potencial mas o poder reside no detonador do mesmo.


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