As pedras não choram

Data 16/12/2008 23:47:55 | Tópico: Acrósticos

Estou sentado em frente ao computador. Ouço a música e a mão escreve, sozinha, sem pensar, apenas cheia de alma. De uma alma que não conheço e que não se reflecte atrás das lentes claras dos meus óculos sem molduras. Não preciso de abrir a porta, penso. Não preciso de abrir a porta para ver o mundo. Trago-o já comigo: vozes, luzes, mãos claras e macias, mão escondidas por dentro de mangas, o Sol quando se levanta de manhã e me faz sorrir quando se reflecte nas últimas gotas de chuva e se atira contra o meu rosto. E no intervalo do trabalho saio para agarrar o vento com as duas mãos, com os olhos, com a alma (a mesma que escreve) e os meus olhos depressa se tornam vidro de uma janela. Por dentro estou eu, a olhar para o espaço, para o passeio em frente, onde as pessoas escorregam (às vezes pensam que andam), a tentar agarrar outra vez as coisas belas que todos os dias passam por mim. Apago o cigarro e o vento engana-me: agarra-me nos cabelos, leva-os a passear pelo ar. Faz-me ver que, afinal, quem me agarrou foi ele. Os meus caracóis voam...


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