morte parcial...

Data 19/12/2008 15:29:20 | Tópico: Prosas Poéticas


Hoje estou assim, triste, doente, dolente, condescendente, trôpego, de respiração enviesada a condizer com o tempo, frio, cortante, áspero, nebuloso em brancura retinta. Procuro na alma esse meu lado frio, lá nos confins dela e perco-me na pequenez desse meu lado, tão pequeno que dá para eu me perder, na procura do eu que busco numa intersecção irregular do que sou e do que pretendia ser, do que busco e dos horizontes que queria alcançar. Rasgo e profano esse lado que me atormenta, numa tentativa de suicídio parcial. Aponto o objecto de morte lá onde faz doer e primo os gatilhos da consciência, num matraquear mortal que não consigo acompanhar em ritmo, para lá do limiar da dor. Honorifico o morto e canto-lhe loas de finado… a campa é rasa para que todas a pisem, no corredor central de cemitério esquecido, despojada de flores e arranjos celestiais que o tempo da morte é terrena e ultrapassa os confins desse céu… que eu não quero estar…não acendam velas, nem ponham dedicatórias, epitáfios que só lembram ao estatuário de martelo e escopro em punho assoberbando e acalmando a consciência de quem esquece. O sino na tarde calma, só dá as horas que mortes destas não precisam de anúncio, nem procissão á desfilada, nem orações perdigotadas por beatas. Só eu…lá…onde me quero...no granito bruto á cabeceira de mim, não me coloquem o nome…digam só que ele (eu) me quis assim…



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