Acabem com os poetas e a poesia!

Data 29/12/2008 23:41:21 | Tópico: Poemas -> Reflexão

O poeta é hipócrita,
Gosta da visão utópica
De sofrimento gratuito
Após encontro fortuito.

Ele não sabe o que é amor.
Vive obcecado na sua pequenez
Desejando alcançar a altivez,
Escrevendo com rigor.

O poeta é um pobre coitado
Que engoliu a língua voluntariamente,
Escreve loucamente
Um triste e alheio fado.

O poeta é doentío,
Escreve horas a fio
A esperar pelo amor
Mas fecha-lhe a porta.

Ele é também estúpido,
Abdica do estado lúcido
Por meia dúzia de versos
E climas adversos.

Deixem-me que vos diga
Que o poeta é dispensável,
Pode até ser muito amável
Mas de nada serve
Se enterra a sua vida
Em poemas de corrida
Contra o tempo.

Prefere o poema à incerteza,
Mas tem a certeza
Que na incerteza certa ficará
Como quem triste fica e está.
Tem a vida à espera,
Odeia a Primavera,
Odeia namorados,
Odeia tudo o que o lembre
Do que ele podia ser
Além de estúpidamente viver a ver
A vida a passar ao lado.

Odeia dias de sol e festivais,
Amores reais e outros que tais,
Odeia o que desconhece,
Odeia o que temidamente reconhece
Que podia um dia ter.
Esse poeta cobarde anda por aí,
A espalhar versos infectados,
À espera de ver os seus queridos
Cair nas malhas da miséria
Por ele fabricada,
Por ele pensada,
Cobardemente improvisada
Quando a palavra faltou
E o sentimento se enterrou.

Desprezo todos os poetas,
Desprezo-os todos os dias,
Desprezo-me quando o sou,
Quando tudo o que dou
São tragédias em palavras
Sofisticadamente macabras
À espera da próxima vítima.

Maldito o dia em que deixei
O verso mandar em mim.
Maldito o dia em que decidi
Que não ia decidir nada.

Maldito o dia em que andei à deriva
De poemas insignificantes,
De coisas pouco marcantes,
De qualquer coisa mais morta que viva.

A poesia é o acto mais cobarde que conheço.
O poeta é estúpido, mudo, cobarde,
Doentio, odioso, na prática
É um pote de adjectivos pejorativos.
Esse tipo foge à vida
Para dizer que não tem vida.
Esse idiota anda a cantar o amor
Para fugir ao amor.

Inventa poemas
Para dizer por palavras torcidas
Uma mensagem clara que se perde pelo caminho.

Enrola-se tanto
Em palavras compradas em saldos
Que não chega a dizer absolutamente nada.

Há de chegar o dia
Em que o poeta decide largar o vício
E abre a porta e começa a viver além do poema.

Desconfio no entanto
Que tal possa acontecer.
Vamos organizar uma caça?
Vamos todos pegar em armas
E abater um a um esses sujeitos!

O bem de todos a isso nos obriga!

Vamos pegar em tochas,
Vamos chamar os arqueiros
E trespassar esses infelizes!
Vão ter apenas uma oportunidade,
Como cristãos-novos à beira de o ser,
Antes da guilhotina cortar a essência!

Os convertidos que o são
Mais felizes serão,
Os falsos não-poetas-novos
No poço da morte cairão!

E assim fizemos do mundo
Um sítio melhor!
Há amigo e palavra,
Não há declaração poética fútil...
Há amor e paixão,
Não há discurso poético inútil...
Há verdadeira desilusão!

Até as tristezas vão saber melhor!

Exige-se urgentemente o fim da poesia e dos poetas!


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