Declino-me em sinal absoluto ...

Data 29/04/2007 22:03:42 | Tópico: Poemas -> Amor

Quando a força diluviana da tua palavra
se escorre sequiosa em catadupa
no leito ebúrneo do meu corpo,
os teus olhos desmedidos, extraordinários
atravessam espaços cósmicos, siderais.

Nesse instante, as tuas mãos urgentes,
frémitas se escoam em gestos resolutos,
sábios, lentos, meigos,
ternurentos – corsárias audazes
penetrando no fascínio da descoberta
escrínios aferrolhados de refloridos tesouros,
povoados e escondidos -, as tuas mãos,
piratas confessas do meu corpo, meu amado ...
Declino-me em sinal absoluto, aberta em dádiva
Declino a alma em taça orgânica de espuma
Declino os seios para que neles baqueies
todas as tuas dores, as tuas mágoas.
Elevo-me em harpa e permito por fim
que sejas mágico vidente, querubim.

Então, na mestria da mais profunda emoção,
reúnes num grito, num estridente chichorrobio,
as aves ruidosas do espaço, as que habitam
os galhos mais cristalinos do altar do paraíso.
Ordenas que nos envolvam, nos circundem,
que nos acompanhem numa melopeia
dulcíssima e incandescente.

Num palco espumado situado algures
entre uma duna e uma crista de um onda
deslizamos cerzidos numa agitação sistémica,
numa dança de um processo, da qual não desejamos
saber do fim e da qual já nos omitimos o começo.

No silêncio, silenciamos a palavra,
damos o palco à voz do corpo,
elevamo-nos deificados na voz da alma!



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