
Aqui
Data 16/05/2006 22:30:00 | Tópico: Poemas
| Aqui resistem sem queixumes, lancinantes vivências, sorrisos em secas gargantas. Inefáveis nós com socos no estômago por sobremesa, entrecruzados caminhos, a jornada na escuridão.
Neste lugar eu digo: e de passagem breve ou eterna estada serei triste, mas alegremente só.Incortonável fado este, o de ser no sofrimento ser possesso, a definitiva altivez da recusa, a assumida presunção da dor exclusiva. Actor de sala com gente ausente, espectador único do acto ultimo de patética existência.
Importa agora não chorar, não ser rio , não ser mar, cuidar que dos amores apenas idas lembranças são, lembrar apenas o belo momento da partida, o momento em que buscaram aconchego maior. Sem ironias, de amarguras isento, as mãos abertas em coração livre, longe de mim toda a mágoa. Cuidar apenas que da apagada existência, do cinzento do meu ser, fui gloriosamente o desapercebido passeante.
As palavras deprimidas procuram o quente dos afectos, são solitárias as palavras das noites negras dos dias não nascidos, e no entanto serão sempre pertença de alguém, alguém no fado de as acalentar, de saber não as arremessar em vão, de deter , na própria desgraça, sabedoria de as usar. Existo no lugar profundo com palavras tristes nos olhos, as palavras obscuras desse lugar podem ser letais, e eu que sou dessas palavras o serviçal escolhido, sei tarde demais… As palavras letais não vêm com manual de utilização!
E velozmente se extingue qualquer imprecisa lembrança de mim, que de memórias eu já não tenho e de futuros nada anseio, a pegada deixada, sumida em tempestades de areia, no absoluto deserto do meu ser, útero e claridade ou apenas nado-morto!
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