A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte XVI)

Data 13/01/2009 23:04:26 | Tópico: Prosas Poéticas

Esta vida retarda-se nos ponteiros do teu relógio de corda, que teimosamente não pára o seu tiquetaquear nervoso e desconcertante. Os teus olhos cruzam-se a milímetros dos meus, mas depressa se sacodem e fixam o horizonte parado no fundo da sala – é incrível a semelhança que têm com duas Luas Cheias, ofuscam-me barbaramente – inerte como eu.
Finjo que não te olho, mas minto a mim próprio, nada pior há num homem que quer acreditar na sua própria mentira, nem que seja para seu bem, é fraco, de baixo nível e é assim que me sinto junto a ti.
Rasgar assim o mundo e dividi-lo contigo é fugir, esquecer que existo sem te ter, sem te sentir. Talvez fosse bom esquecer-te, mas não consigo imaginar tamanha frustração.
Quero ter apenas uma hipótese de ser metade de ti, de me rir do universo por saber que consegui ter coragem de um dia deixar de ter medo de mim.
Quero dar vida à vida, tua e minha, tropeçar no sonho e acordar a ler-te todas as palavras que pelo chão deixei caladas.



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