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    	Data 18/01/2009 22:39:46 | Tópico: Textos -> Amor
 
  |  e sempre sempre que te pensava ... via-te num caminho lilás
  na tua concha que difarçavas com ondas e areia
  numa sombra te via...
   
  quando o olhar já não queria dizer mais nada
  sentia-te preso
  não consiguindo abrir-te
  tentando com uma faca ...com os dentes 
  partir a concha 
  essa concha que mesmo de sorriso aberto mantias fechada
   
  não podias 
  não querias
   
  .... nem eu sabia porque a queria abrir...
   
  não te conhecendo por não deixares
  ía descobrindo o que conseguia ver para lá desse teu caminho
   
  tentando perceber ..acreditando que agora já estarias mais livre da dura concha que te encerrava
  ..........................................
   
  talvez hoje não tivésse feito assim...
  como fiz  e como tu previas que faria 
  talvez hoje eu te deixásse tranquilamente fechado na concha ..naquelas simples conchas que eu apanhava na praia....
  talvez hoje eu tivésse deixado que seguisses esse caminho lilás...
   
  não te encontrava
   
  talvez hoje eu tivésse percebido que a liberdade que não sabias usar ..era mais do que ar, 
  era mais do que luz
   
  era mais do que se pode ter para viver
   
  talvez hoje eu não tivésse deixado que deitásses "coisas" fora 
  tuas "coisas"
  nossas "coisas"
   
  teria percebido que deitavas fora tudo o que não querias
   
  materializando tudo num acto que mais tarde nada seria...
   
  esperando assim que dentro da tua concha ficásses mais tranquilo..
  talvez hoje  eu tivésse prcebido que só querias voar
  talvez hoje eu te tivésse deixado ser quem querias ser
  mesmo não sabendo o que serias...
   
  .....................
   
  "não te preocupes.... minha querida...não  vais ter nunca mais de voltar lá abaixo!"
  "eu trato de tudo..eu faço a mudança toda e trago as "coisas" para cima"
  passava as suas mãos na minha cara...
   
  eu ouvia sem conseguir perceber o que deveria fazer,,....
  não querendo eu voltar lá...aquela casa onde as gaivotas me apareciam todas as noites na minha varanda para sossegar a solidão
  não querendo voltar aquela imensa casa....
  olhava-o... e apática dizia que sim...
   
  mesmo sabendo como se iria sentir lá sozinho
   
  mesmo sabendo o que iria sofrer ao acabar com tudo o que era lá...
  mesmo sabendo que desejava ...voltar a viver uma outra vida qualquer
  mesmo sabendo que não sabia qual a vida que queria viver
   
  deixei que fosse só...para arrumar tudo
  para se arrumar
  para abrir a sua concha
  mesmo desesperando
  estaria melhor
   
  " sim...está bem...vai sim... eu não sou capaz de lá voltar..."
  dizia-lhe ...afastando tudo o que me trazia aquela imensa varanda 
  onde a minha Lua Amarela se calhar ainda por lá espreitava
   
  foi 
   
  decidido
  demasiado decidido , demasiado confiante nem sei de quê
  tanto eu sabia o que ele precisava de estar só...
   
  foi e arrumou tudo como soube na altura 
  arrumou tudo como lhe fez sentido
  abrindo a sua concha só fez o que lá de dentro ,,,de dentro dessa concha ... lhe disseram para fazer....
   
  eu esperava que voltásse sem dia nem hora para voltar
  mais uma vez continuava assim á espera 
  desta vez com esperança de que tudo iria começar de novo..
  no novo ano ...nesse ano novo
   
  não desfazendo  a teia..não desfazendo o seu novelo...não entrando na sua concha
  na concha onde se escondia 
  nem espreitei...
  esperei sem perguntar....
   
   
  chegou  dias depois...
  demasiados dias depois...
   
  " já está a mudança feita!" disse-me sorrindo
  "agora vamos começar tudo de novo! "
   
  dizia euforico...e inseguro
   
  "sim... e onde estão as coisas...?" 
  peguntava não adivinhando a resposta 
   
  "as "coisas" estão todas no lixo...!!!"
  "deixei tudo lá em baixo no lixo....sabes aqueles contentores que estavam ao pé de casa? ...ficaram cheios de sacos pretos de lixo...."
   
  "mas ...deitás-te tudo fora ?" 
  eu sorria nervosa 
  baralhada sem saber se deveria ficar contente ou não....
   
  "sim...foi tudo para o lixo...são só "coisas" não vamos precisar daquilo para nada!"
  "andamos agarrados a "coisas"..."
   
  sorria-me e olhava-me com os seus olhos sem cor...
   
  sorri...de lágrimas a saltar dizia-lhe que sim...
   
  são só "coisas" vamos começar tudo de novo
   
  agarrada com força a tudo o que eu pensei que tudo quizésse dizer..
  esqueçi as "coisas"
   
  afinal nós eramos a vida ..
  as "coisas" não....
   
  e....sem os nossos livros ...as nossas músicas...as nossas mobílias....íamos criar outros quereres
  ...íamos ter outras "coisas"
   
  feliz...senti-me feliz
  porque ele tinha deitado fora todo o meu e o seu sofrimento
  não reparei que se fechava mais uma vez na sua concha
   
  que eu não abria
 
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