O mundo sou eu (Biossistema)

Data 03/05/2007 13:02:55 | Tópico: Poemas



Quem sou eu,
Diante do todo que me cerca?
Quem sou eu,
No meio da vida que me espera? ,
E que me abraça
Sem me deixar correr,
E que me possui
Sem deixar-me esconder.
Pois me tornei o mundo
O qual tanto repudiei...

Agora, alcançada a minha compreenção,
Encerro-me como partícula desgarrada,
Findo-me como história unitária _ já que
Na solidão nada posso,
nada sou;

Abandono o meu ser incógnito
E mergulho no que sempre fui... Uma parte.

Sendo, então, o que sou
E repudiando-me pela primeira vez _pois agora sou parte do que odeio;
Pugno contra mim a partir deste momento,
Não mais contra o mundo hostil e curruptível
Que está em volta
Daquilo que dizia ser eu;
Pois o mundo sou eu, sou parte dele.
Sou parte do todo,
Estou acorrentado a ele.
Sou parte da podridão,
Sou igual a ela,
Mesmo não querendo ser _ou fingindo não ser.

Pelejo, a partir deste instante,
Contra o meu ser-mundo hostil e curruptível,
Contra o meu abaixar-cabeça
Dentro do meu próprio sistema corrosivo,
Coersitivo;

Pois no meu eu-parte,
No meu eu-sistema-vivo,
Posso adoecer-me _virar célula cancerígena,
Provocando uma cadeia de reações;
E da minha patologia _do meu eu como uma ínfima parte;
Surgirão mutações,
Transformações biológicas...
Órgãos serão perdidos! _poderei me perder nessa loucura;
Eis que levarei toda uma bio à quase-morte;
E darei adeus a tudo o que conheço,
Ao que reconheço...

E do zero tudo recomeçará,
Tudo surgirá...
O meu eu será parte de um novo sistema viceral...
Serei célula de um novo corpo,
Talvez mais limpo,
Mais claro...
Talvez.



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