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 A Balada da NeveData 24/01/2009 13:59:15 | Tópico: Acrósticos
 
 |  | A Balada de Neve 
 Batem leve, levemente,
 como quem chama por mim...
 Será chuva? Será gente?
 Gente não é, certamente
 e a chuva não bate assim...
 
 É talvez a ventania;
 mas há pouco, há poucochinho,
 nem uma agulha bulia
 na quieta melancolia
 dos pinheiros do caminho...
 
 Quem bate, assim, levemente,
 com tão estranha leveza,
 que mal se ouve, mal se sente?
 Não é chuva, nem é gente,
 nem é vento, com certeza.
 
 Fui ver. A neve caía
 do azul cinzento do céu,
 branca e leve, branca e fria...
 Há quanto tempo a não via!
 E que saudade, Deus meu!
 
 Olho-a através da vidraça.
 Pôs tudo da cor do linho.
 Passa gente e, quando passa,
 os passos imprime e traça
 na brancura do caminho...
 
 Fico olhando esses sinais
 da pobre gente que avança,
 e noto, por entre os mais,
 os traços miniaturais
 de uns pezitos de criança...
 
 E descalcinhos, doridos...
 a neve deixa inda vê-los,
 primeiro, bem definidos,
 - depois em sulcos compridos,
 porque não podia erguê-los!...
 
 Que quem já é pecador
 sofra tormentos... enfim!
 Mas as crianças, Senhor,
 porque lhes dais tanta dor?!...
 Porque padecem assim?!
 
 E uma infinita tristeza,
 uma funda turbação
 entra em mim, fica em mim presa.
 Cai neve na natureza...
 – e cai no meu coração.
 
 
 Augusto Gil - Luar de Janeiro, 1909
 
 
 
 tags: balada, há, neve, precisamente, século
 
 
 publicado por umbreveolhar às 11:14
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