A implacável substituta

Data 24/01/2009 23:04:44 | Tópico: Poemas -> Reflexão

No princípio
Consome, corrói, destrói!
Depois...
Depois já nada mais importa...

O tempo vai passando... devagar...
E chega um dia
Em que já nada se sente
O que foi, já não o é
O que fora antes tão importante
Deixou de o ser
O que sabia a pouco
Dilui-se na espuma dos dias
Preenchidos
De silêncios partilhados

Estranhos e cúmplices
Silêncios estes
Que se agridem
Que se gritam
Naquela linguagem surda
Que mais ninguém entende
Cruzando-se no mesmo ar que respiramos
Sob a forma de ecos mudos

Estridentes sons agudos
Tão cheios de tudo
E de nada...


Passeia-se orgulhosa a indiferença
Apagando gestos e sorrisos antigos
Ternuras
Cumplicidades...
Que chega até a doer
De tão aparente e natural o ser


E as bocas permaneceram caladas
Ao longo dos dias
Das semanas
E dos meses
Que passaram a ser anos

Apenas o pensamento ficou
Intocável
Incontrolável
Por vezes enlouquecido
Lembrando-se do que não devia
Ousando saltar o muro
O imponente muro do orgulho
Desafiando o proibido
E arriscando um ensaio
De uma fala ainda não dita
E que jamais será proferida

Mas... ainda assim
Quem sabe num remoto acaso
Num momento de fraquezas consentidas
Num instante que rasgue
O fino e frágil véu do imprevisto...

Mas nunca com um simples "tu"
O mesmo "tu" que outrora se prostituiu
E morreu enleado
Nas amarras de um capricho...

O "você"
Será a palavra nova
A palavra obrigatória
Sob a qual se curvará
O inevitável...

Eis que ela chega
Sumptuosa e fria
A grande substituta!

Onde reinará implacável
Para lá até, do eterno...





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