Sem título(74)

Data 05/05/2007 06:17:25 | Tópico: Poemas

Hoje escrevo o meu epitáfio

Derramo sarcasmos e sinceridades

No alabastro comprado com sangue falso


Hoje sou operário canteiro com alma de artista maior

Gravo na pedra trivialidades com belezas formais

Omito o cadáver o artesão e o íntimo da rocha

E deixo transparecer a verdade íntima do meu ser


Por dentro da rocha em minhas mãos desvendada

Vislumbro a árvore de luz

E quedo-me na árvore do esquecimento

Na sombra dos derrotados


Perdida a batalha de esculpir o amor em pedra maior

Ganho a guerra no verso do meu epitáfio

Inscrevo de mãos nuas a frase lapidar

Sem memórias escrevo telegraficamente

Ou sulco a pedra com a seiva acre-doce do meu pranto

Com a memória de esculturas imperfeitas


Sem memória

Despedaço-me ao vento

Ou cresço em terra nova feito húmus

Sem memória e sem futuro


Dionísio Dinis



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