Do sopé da montanha mágica

Data 05/05/2007 22:35:58 | Tópico: Poemas -> Amor

Mais alto que o próprio vento, a chama que perturba
a paz parada das águas.
Ali, nos vitrais das baças alvoradas.

Mais elevado que qualquer aragem, a úlcera
amordaçada e rubra, reformulada em voos rasantes
de breves, esvoaçantes mariposas.

(E de lá de espaços ocultos, plasmados,
incontornados, só os gestos. Ocos d'olhares).

Difusos, reclusos, cativos,
em cantos embicados de sinos dobrados,
dentro do vácuo laico de um tempo e, contudo,
do sopé da montanha mágica
esvoaçam-se agora desordeiros,
os teus olhos encapelados, os teus olhos, meu amado,
aos meus colados, murmurantes em primazias de verbos
a escorrerem-se, rápidos d’alentos
no caudal retinto de palavras milenares. Ecos, ventos…

Alteias-te num som de signo a navegar-me a saudade
num barco cor de luar, quando o Sol desaba e dorme
na areia fria da praia e, no sabor da antecipação
da tua boca sobre a minha, arauto de salvação,
da tua na minha mão - te digo e te juro
que não me engano -, são já nossas, meu amado,
as frutas sagradas, de néctar fino e açucarado,
de sabor a bênção e a pecado.
As mais melífluas e nutritivas.
As que estão dependuradas das ramadas mais altivas.
As frutas suculentas das árvores de todos os mares.
Duvidas? Sente o sal a sarar as nossas feridas...
**
É manhã...
Murmurejas, ecoas-me na voz escava de um búzio.
És ainda não mais que bruxuleante neblina,
na névoa incessante da ancoragem.

E és já, plangente de mim, harmonia abaliza,
de ser força, de ser fé, de ser coragem,
de ousar incorrer maré na tarefa da viagem.




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