Coração de açúcar

Data 02/02/2009 15:21:01 | Tópico: Poemas

Presa à delgada superfície de um poema, fina membrana que distingue o efetivo da insanidade, ela trazia dias imerecidos bordados nos olhos, como se a vida não fosse mais que o acúmulo complexo de palavras nunca cometidas. Tinha uma flor vulnerável dentro do peito, que fantasiava primaveras mágicas, inalcançáveis, arquivadas com zelo e ironia no seu sangue; uma dor que lhe escapava do sorriso, como um sol a romper com a eternidade da noite escura. Absolutamente confinada na calamidade de um amor estéril teimava resistindo, galgando sua solidão com implacável avidez, como se do seu topo fosse possível ver todos os vales do mundo... Agora eu a vejo passar por mim, dentro de mim, a asa enfim quebrada, a canção enfim perdida, o rosto enfim cerrado; seu coração de açúcar enfim derramado...


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