quem tem cu tem medo

Data 03/02/2009 17:54:52 | Tópico: Crónicas

Nós, os portugueses, podemos não ter inventado a vacina contra o tétano, podemos não ser bons em acertar na muche nas contas orçamentais, podemos ter talento para subornos e afins, mas numa coisa, e aqui todos concordarão certamente, somos pioneiros na arte do sofrimento, número um mundial nas idas ao médico e gemer, gemer, gemer no hall do consultório.

Enfim, gostamos de mostrar que somos uns pobres coitados, que a vida vai má, que qualquer dia à que dê o rei.
Para confirmação destes factores ora vejam lá este extracto de uma conversa de um paciente num consultório, onde o meu agente infiltrado captou tudo com as suas antenas à la José Rodrigues dos Santos:

- Ai este Inverno que nunca mais termina, doutor! O meu coração dá sinais de avaria, o meu estômago deita tudo por fora, os meus ossos, ai os meus queridos ossinhos parece que fazem acompanhamento musical de música satânica,
eu bem digo-lhe doutor que dói aqui que dói acolá, que qualquer dia dá-me uma bem forte que me vou sem destino para aquele lugar indesejado, mas que agora, é certo, não me calha lá muito bem, até porque tenho filhos que ainda não estão arranjados para vida lá fora.

Ai doutor preciso de baixa imediata, cinco dias sem trabalhar, no minímo, cinco dias na caminha, a xaropes e chás, não estou para pegar em caixotes lá na fábrica, carregar mercadorias, o stress das encomendas, se me atrevo a mexer um músculo, uma falange, uma falangeta, o meu corpo quebra-se logo de imediato.

Dói tanto que se mexer numa palha desfaço-me em três ou quatro.
Não desejo isto a ningém, doutor. Os meus ossos adivinham mais que qualquer previsão metereológica, você nem imagina o protesto que eles fazem quando se aproxima aquele frio frio, deve ser do PDI, como diz a minha mulher, que por eu estar assim trabalha como uma negra e ainda me traz o leitinho à cama.
Ai doutor, pela Santíssima Trindade, assine-me o papel da baixa antes que eu me apague e dê o pifo.

O médico, que já comeu muita sopa na sua vida, responde:

- Bem, o caso é grave, vai ter de fazer urgentemente uma rectoscopia minuciosa a ver como está por dentro.
- Rectoscopia, doutor?!

O paciente, que só por dizer a palavra fez cara feia, assim que se falou em meter qualquer coisa pelo traseiro acima, de súbito, como se um milagre acontecesse ali naquele consultório, o doente em menos de um fósforo virou ex-doente, as suas bochechas levantaram-se com nova cor, o seu sorriso abriu janelas, pondo-se a andar dali para fora numa energia que daria para iluminar um prédio de vinte andares.

Posto isto, o médico pôs-se à vontade na sua cadeira e deu por si a rir, a rir, e um pensamento alto saiu-lhe da boca:

- Remédio santo! Um gajo fala-lhes em meter um tubo pela regueifa acima ficam logo curadinhos!

Pois. Neste caso confirma-se o ditado: para grandes males, grandes remédios.



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