
ESCREVO COMO QUEM GRITA
Data 22/05/2006 11:30:00 | Tópico: Poemas
| Rascunho com sangue na parede da caverna Verso com a pressa de quem escreve no muro Canto como quem bate prego Como quem rima na praia por um qualquer troco
Não há tempo pra decifrar enigmas descobrir significados hermeticamente trancados em hierogrifos em escritos do Mar Morto Escrevo como grito estes panfletos primais
Escrevo como arma com o gatilho puxado e atiro pra todo lado mesmo sem técnica e primor e sem beneplácito doutor como quem não pode sem licença expor na sua barraca de camelô seu cordel sua rima sem prumo/ seu medo/ sua dor
Escrevo como grito Traço destino sem rascunho murmuro em alto falantes rebelo como um sem-guarida nau desgarrada me lanço da torre dos preconceitos totens do dinheiro me incendeio como aceno e queimo-me inteiro
Palavras duras e quedas livres/ Grito Descrevo/ crivo páginas da vida endividada retiro a seiva que destilo letras-vida sem censura e mensura oficial Dura é a trama que descrevo do gueto revelo outro som outro sol onde o nó se faz com dor/ desprezo/ temor
Escrevo aos gritos boto a boca no berrante panfleto com lavras próprias com pá de dores com lágrimas com frases de paz e degredo com raiva e fogo com dor e horrores do gueto
Escrevo como rasgos como acenos afogados como gado no matadouro vendo navios indo com ouro roubado levado além-mar olho aceso peito batuque muque feito
Escrevo como o escravo acorrentado pela mão pelo pé escrevo por dentro sem pena/ tinta/ caneta sem pena dos feitores sob o açoite à noite até que não chegue dia sigo na noite sigo gritando letras e dores/ revolta/ rebeldia/ coragem à margem do oceano
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