| |  
 
 Cansada, constatoData 08/05/2007 20:55:16 | Tópico: Poemas -> Desilusão
 
 |  | Cansada De não ser verdade
 De não ser mentira
 De não ser carinho, nem toque
 De não ser sequer raiva, ou ira
 De não ser nada, nada, nada,
 de amarfanhar o beijo na boca do sonho
 adormecido na dança de pássaros mudos,
 silenciados;
 
 
 De pássaros entorpecidos neste frio absurdo
 do Maio das horas a passar constante
 em vértebras sugadas até à medula,
 p’los carniceiros abutres…
 
 
 escoam-se
 nos vitrais bolorentos do desejo,
 os sentidos, os afectos tresmalhados,
 na detença, na tibieza do fim dum chão
 lamacento. Deste onde, dia após dia,
 hora a hora, em que me sento e jazo defunta
 no cimo de um planalto
 e renasço na fantasia obliquada
 em claridade cortada por grilhões.
 
 Grades, arames, linhas, fracas de finas,
 pontilhadas no abstracto de um céu azul-cobalto.
 
 Cansada
 de ser apenas poemas de refúgios derrotados,
 letras avultadas de fados com girassóis costurados
 nos olhos de musgentos de mim menina,
 escoam-se os sentimentos decrépitos
 em formulários meticulosamente preenchidos,
 na sentina repartição,
 letra a letra, certinha, em maiúsculas,
 como se impõe na nota minúscula de um rodapé:
 
 “- Nome, sexo, idade, país, morada, localidade…”
 enfim…
 
 Cansada, constato:
 - Ninguém pergunta por afectos!
 Afinal, não se legislam por diplomas, decretos …
 
 | 
 |