sou um louco que sabe tocar acordeão (1)
Data 18/02/2009 11:46:28 | Tópico: Poemas
| PRECISO DE UMA MULHER para estar comigo entre as nove e as onze Alguém com pronúncia pouco pronunciada Uma espécie de Greta Garbo com Frida Kahlo Ou Alice Vieira com Natália A nossa Natália Correia que um dia me levou ao período Futurista!
Tem alguma ideia? Pode ser uma mulher meia calada que eu pôr-lhe-ei palavras na boca Uma com cheiro a pinho Com longas tranças de escamas de peixes Se tiver tronco de árvore não faz mal Eu próprio lhe darei forma As minhas mãos sempre foram invejadas Basta entender de anéis solares
Preciso de uma mulher para coser meus pensamentos De preferência da cor do meu telhado Que é branco em cima de um fundo negro Aviso já que não é fácil Só autodidacta consegue!
Achará que eu quero violar essa mulher Danados! Malditos! Tenho poemas por acabar Tenho o sangue prestes a esgotar A muralha da China vê-se lá do alto Outro dia confirmei isso Sem me levantar da cadeira Quero essa mulher para guiar minha mão que (in)segura a caneta
Quero essa mulher em trajes que me façam entender uma bandeira! Quero o sol e a lua na mesma embalagem! O terror e a lucidez parados numa esquina! Ou em banhos de espuma!
Entre as nove e as onze ardo em fosfóricas saudades Um agrafador pisca-me o olho com naturalidade Uma cópia de Dali denuncia que está vivo A água da torneira a ir pela bacia abaixo As luzes das minhas ideias com as mãos na cintura O som Os sons As magníficas correntes do ar O cesto de papéis achando a vida uma ova A ferida que eu não curei abrigando répteis Penso num A e sai-me um O Ó que terras mal acamadas! Não vedes que eu desabo!
Dirão agora que mereço essa mulher Coitado deve participar em antologias Escolher poemas da fase da parvalheira Jogar flippers e mostrar à garina o quanto vale
Odeio a simplicidade! Odeio as complicações! Entre eu o nada não existe intervalo Sempre escutei Vinícius de Moraes antes de adormecer É bem melhor que uma velinha acesa num copo de azeite
Os homens morrem A arte fica Eu hei-de morrer sem saber o que me resta! Quem está doente Doente morrerá Quem está de saúde Terá boas amantes
Quero agora essa mulher Entre as nove e as onze De preferência entre as nove e as onze da noite Assim sabe melhor o salmão Posso traduzir Dostoievski Embora não percebendo nada de russo Vou-me embora antes que a tabacaria encerre São quase nove Vêm aí nove meninas Cada uma com nove meninas em cada mão Qual delas saberá mudar a água aos peixes?
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