Três segundos

Data 20/02/2009 18:44:10 | Tópico: Poemas

O Sol aqueceu tanto a areia
branca, fina,
que queimei dos pés as solas,
plantas pouco calejadas;
corri até ao sombreado
duma rocha.

Alcancei o pontão de pedra
pouco depois,
e sentado nessa península artificial
mirei o mar calmo e azul.

Procurei rochas no fundo,
calculei a profundidade,
e a limpidez verde da areia
assinou a decisão do salto...

A corrida,
tantas vezes repetida,
insinuou-se, como os passos rápidos da avestruz
e o exibicionismo do pavão,
então, como um mergulhão,
entre a gravidade e o vôo
senti o vento quente na face
misturar-se
com a adrenalina em circulação...

Três segundos depois,
a frescura do Atlântico
enquanto lhe penetrava as entranhas ondulantes:
um peixe palhaço,
as algas verde-alface,
a vista turva no silêncio ermo...

Logo após,
o feito mecânico do sal
activou o início da expulsão
e o aparecimento da luz solar à superficie.

Com o pensamento a roçar a loucura
subi a escadaria empedrada
e preparei novo salto.



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