Uma crónica a desoras...

Data 21/02/2009 02:28:24 | Tópico: Textos -> Crítica

Por me saberem amante das poesias e entusiasta nestas lides da escrita de trazer por casa, há dias perguntaram-me se ainda não tinha escrito nada a propósito das mudanças ocorridas recentemente no meu local de trabalho. E porquê isto agora? Perguntarão vocês, visto que não é o meu estilo habitual. Pois eu respondo-vos que por serem tão radicais ao ponto de se tornarem ridículas comparando o antes e o depois, confesso que me têm feito bastantes cócegas no pensamento e a minha vontade de o deitar cá para fora, desta vez levou-me a fazê-lo de uma forma diferente, mesmo arriscando num campo onde não me sinto tão à vontade como na prosa poética ou na poesia. Mas mesmo assim, cá vai...
Respondi com um aceno de cabeça num modo de negação, justificando-o com o cansaço e a indiferença que me causava, numa tentativa vã de me enganar a mim mesma.
Mas como poderei eu ser indiferente a algo que incomodou a todos e com o qual ninguém se conforma? Não posso. Estaria a ser hipócrita e mais uma vez, a enganar-me a mim mesma!
Em tempos de crise como esta que vivemos actualmente, bem sei que deveria mesmo era estar sossegada e dar graças a Deus por ter um emprego que me permite sobreviver e sustentar a minha casa. Mas há coisas que são demais e de tão incompreensíveis serem, me deixam abismada e quase sem reacção...
E se vos dissesse que num grande hospital central da nossa capital, que por acaso é onde trabalho, existem situações que revoltam qualquer um que nelas esteja envolvido e as conheça ao pormenor.
Regredimos muitos passos para trás e não o foi no interesse real dos propósitos a que se destina uma unidade hospitalar desta envergadura e que seria, a meu ver e acima de tudo, no interesse dos doentes. Ou será que sou eu e todos os meus colegas que estamos errados?!
Não se admite que tenham construído um laboratório central de análises clínicas, de raíz, sem prever e acautelar determinadas coisas que antes existiam e agora não existem, simplesmente porque ninguém se lembrou delas! Dou um exemplo simples, entre muitos outros, uma coisinha simples mas que tem uma importância enorme tendo em conta que é uma situação definitiva. Um determinado aparelho de contagem de células no hemograma, não tem o esgoto ligado à rede o que obriga a que seja transportado num recipiente bastante pesado ao longo de um corredor comprido, até ao único viduário existente, que por acaso fica na outra ponta do laboratório, para que seja aí despejado manualmente. É inacreditável, pois há mais de 15 anos que não se fazia tal coisa!
Aparelhos muito inferiores aos que se tinham antes e que despachavam as análises da urgência em pouco tempo e que agora demoram muito mais, por serem mais limitados e não permitirem a introdução de um determinado número de sangues (soros) que os outros permitiam além de serem muito mais rápidos e de fazerem diluições automáticas e que estes requerem que sejam manuais. Mas que se há-de fazer? Pois se a firma que ganhou o concurso e que por acaso também pagou as obras, só tem estes... é lamentável. E os doentes esperam horas a fio, os médicos pressionam , os doentes reclamam, os acompanhantes insultam... e quem ouve, quem dá a cara, é quem não tem culpa absolutamente nenhuma.
E pensar que foi inaugurado com tanta pompa e circunstancia, na presença da ministra da saúde e de um sem número de outras individualidades. Foi notícia de televisão, de rádios e jornais ao ser apresentado como o melhor da Europa!
Tinha muito mais que dizer, mas fico-me só por isto...


Escrito de madrugada e muito por culpa da poesia que não me apareceu...


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