SOU MÃOS

Data 28/02/2009 14:14:03 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Sou mãos.
Cumpro ordens do coração
e espremo frutos em lábios sedentos
Ou cumpro ordens da razão
e aprisiono doces memórias
em estátuas de matéria indefinida.

Sou mãos.
Atiço matéria vulcânica
e queimo solos e desbravo caminhos
por onde flui a lava das veias
Ou mato margens de rios
e desnudo-as de qualquer geometria.

Sou mãos.
Rompo as grades das jaulas
e desenho voos periclitantes
Ou toco o ar e toco a terra
em malabarismos de cavalo selvagem.

Sou mãos.
Remo palavras contra a corrente
e afundo o perfume do meu delírio
Ou remo a favor do vento
e embriago a mentira da minha verdade.

Sou mãos.
Amarro-as em poeira de tempo
e perscruto-lhes as linhas, a sina da vida
Ou solto-as e viro-as do avesso
e escrevo apenas que sou mãos.

Marta Vasil

Deixo o meu agradecimento, entre outros, ao
Zé Brazão por ter contribuído para que as minhas mãos continuassem a escrever.



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