Polifonia

Data 03/03/2009 16:10:49 | Tópico: Prosas Poéticas

Tento afastar do meu espírito quaisquer abstrações que me venham devorar, toco meu coração com as mãos enluvadas, com os olhos libertos, o pensamento lento, despressurizado e ouço em meu íntimo pormenores desarmônicos de um sentimento imperfeito, vozes que são vozes há muito manuscritas no encalço das luzes que ouvi passarem. Da janela presencio a mudez simbólica dos viventes em procissão, presos ao cotidiano sem estética de seus passos, e uma música diz de mim: ‘sabe o que eu queria agora, meu bem? sair, chegar lá fora e encontrar alguém que não me dissesse nada, não me perguntasse nada também...’
Sinto a pelúcia enganadora do tempo acariciar-me, hastear em mim bandeiras negras, insultar previsões dos meus ancestrais...
Fecho os meus olhos em íntima demolição e uma gota de sangue sobre o último acorde inteligível depõe em favor do fim.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=72829