Contigo

Data 07/03/2009 11:28:29 | Tópico: Prosas Poéticas

Rouxinol de voz doce, leva-me para o teu fofo ninho, a mim… que te pertenço!...
Leva-me do meu freixo de menina, alimenta-me, aconchega-me, acaricia-me, ensina-me a voar.
Partilha comigo os teus galhos tenros e mostra-me do teu altar sobranceiro, os campos dourados salpicados de papoilas rubras e florestas que desconheço.
Ensina-me a cantar as tuas melodias e deixa-me ser instrumento da tua orquestra de sons alegres e nostálgicos, agudos e graves, de rir e de chorar.
Quero cantar até que a voz me falhe e os pulmões se cansem, até que tristezas parem e os sonhos se alcancem. Até que me ouças cantar, rouxinol triste
No dorso do jumento da criança boieira, transportarei todos os vestidos, a minha boneca de trapos, a minha voz, os meus sentidos, a inocência e esta carência sem fim, de menina.
E tu, gaivota jovem de asas brilhantes e belas, partilha comigo o mastro do teu navio, de onde aviste outros mundos!...
Esvoaça e afogenta a multidão que me comprime e atormenta e não me deixa ser, crescer!…
Leva-me para um céu onde não haja nuvens negras, vestes negras, onde se respire ar puro e se cante e dance livremente!...
Pois tu não vês que as minhas asas estão caídas, sem brilho e ressequidas?
Não vês que as amarras e os sulcos profundos no meu corpo, me prendem, asfixiam e flagelam?
Não vês que os nós da minha alma me matam os sonhos?
Gaivota, afugenta a multidão que me oprime e atormenta!...
Leva-me no mastro do teu navio; também eu quero ser gaivota!...
Quero voar sobre as águas cristalinas do oceano com reflexos de céu azul, ser levada por brisa suave e perfumada. Quero dormir na cama da sereia sedutora e com ela cantar as canções que confundem, desorientam os marinheiros apaixonados e quero desorientá-los e seduzi-los também.
Quero atracar e encontrar o rouxinol triste, fazer parte da sua orquestra e, a esvoaçar de galho em galho, de mastro em mastro, cantar, crescer,… ser eu.
Contigo em mim!...
Contigo gaivota, a jovem que sou, a criança que fui!...




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