Mudo de Emoções

Data 08/03/2009 18:37:56 | Tópico: Textos

A cidade eu associava a alguns, mas a rua a quase nenhum… No entanto foi lá nessa rua que ele acabou por instalar seus parcos teres por entre bulas e pagelas, atrapalhadas em pratos rasos de vida, rasos de viveres, de carinhos, de amores. Como rasa a sua vontade de viver. Aguardava encostado à coluna a chegada provável da marmita ou medicação, que viria pela mão da mais que carrasco disfarçada de enfermeira, não uma de libidos renovadas cada dia, mas de altivez camuflando a falta de. Aquele cuja juventude e folia lá longe se escapuliu por entre mais do que a conta de gastos em luxúrias e volúpias. Tanto demais que a tampa lhe saltou, o bolso furou e por fim as manas nunca mais permitiram o acesso além do pão, do tecto, e da roupa lavada. Assim vive a mente quase brilhante e coração grandioso. Vestido de Cristo, fluido de pêlos esbranquiçados por todo o rosto, segurando dois olhos mar, suspensos a manchas negras profundas encimando as maçãs, rodeadas de cabelos grisalhos escorrendo. Contrariamente ao que seria de esperar nunca dedilhou nada que fosse, nunca poetou, nunca musicou, nunca pintou, a alma grande de artista, pensante de filosofias mil, passará pela vida mudo de emoções.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=73528