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 ENTEData 10/03/2009 11:28:13 | Tópico: Poemas -> Introspecção
 
 |  | ente 
 se até a mim escolhi
 que sou eu senão igual a ti?
 que me lês neste poema,
 seja ele eloquente.
 tem-te a ti como tema,
 e a mim como dilema.
 
 se até a mim resisto
 que sou eu senão isto?
 que escreve sem escrever
 nas entrelinhas da mente,
 o que não sabe dizer,
 e mesmo assim suceder.
 
 se até a mim iludo
 que sou eu senão mudo?
 neste mundo de dúvida
 que só mente quando sente
 e é indiferente toda a vida
 a esta ideia nunca lida.
 
 se até a mim confesso
 que me sinto possesso
 por sentimentos tamanhos,
 comum em tanta gente,
 mergulho também nestes banhos
 de raciocínios estranhos.
 
 se até a mim procuro
 que sou eu se não seguro
 cá dentro o que alcançar?
 mesmo que seja diferente
 de toda a forma de ganhar.
 só assim se pode amar.
 
 se até a mim convido
 que sou eu senão recebido
 em mim para me mentir?
 sentir verdadeiramente.
 entro agora para me unir
 no que sair fez dividir.
 
 se até a mim aprendo
 que sou eu se não vou lendo
 outras mentes que oferecem?
 numa partilha permanente.
 pois mesmo que umas cessem
 as minhas permanecem.
 
 se até a mim ensino
 que sou eu senão o destino
 que me trouxe a este ponto?
 todo o passado é o presente
 num contínuo confronto
 porque aquele nunca está pronto.
 
 se até a mim chego
 que sou eu senão aconchego
 a quem se aproximou?
 para um futuro contente
 que ainda não chegou
 mas que já começou.
 
 se até a mim embalo
 que sou eu se não calo
 perante a minha voz?
 que me faz ficar quente
 quando estamos a sós
 e nada mais importa, só nós.
 
 se até a mim observo
 que sou eu se me reservo?
 quero ver por fora
 quando estou à minha frente
 ou quando vou embora
 o que tenho por dentro agora.
 
 se até a mim confundo
 que sou eu se mudo o mundo?
 um profeta confundido
 profundamente descrente?
 ou um crente em si bem sucedido?
 que só por dar fica preenchido.
 
 se até a mim, Deus,
 que sou eu, chama ateus,
 como não ter fé em qualquer eu?
 que toma, deliberadamente,
 cada bom valor como seu
 que outro deus nunca prometeu.
 
 se até a mim desobedeço
 que sou eu que desconheço?
 é tristeza que perfura
 esta certeza ausente.
 é conhecer que torna futura
 essa adiada dor mais dura.
 
 se até a mim troco
 que sou eu se não evoco
 para que troques comigo?
 voltes e leias novamente.
 quero ver se consigo
 que percebas o que digo.
 
 se até em mim aposto
 quem sou eu senão tu?
 quem és tu senão cá dentro?
 nunca por fora por mais que tente.
 por trás de todo o pensamento
 raiz de todo o sentimento.
 
 
 27/11/2006
 
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