De luto caminho...

Data 12/05/2007 14:05:49 | Tópico: Prosas Poéticas

De me saber só enquanto as ruas atolhadas de gente à procura de restos, de me saber só vem este meu triste fado...

De luto caminho mesmo de cabeça erguida, olhar de luto, roupa de luto como se me tivesse morrido alguém, morreu-me a espera inútil de um fulano inútil que o tempo perdido não trouxe até mim... de luto caminho mas sossego a alma e canto baixinho músicas de embalar enquanto corvos me circundam procurando absorver-me.
A ninguém me dou, não há bicho que venha e me leve... a ninguém me dou como me dou sem mágoa nem queixume a quem me lê e a quem respira o que sou em cada letra ou até mesmo em cada espaço branco que resta... (pausa, suspiro demorado).

E é de luto que olho para trás e vejo o negro da noite, também ela vestida de luto, enlutadas as duas unidas por alma, sempre foras minhas, sempre eu fora tua, confidentes fiéis em tempos, quando a consolação não existia... olho para trás e inverto o trajecto prefiro-te escura noite, prefiro-te ao tenro dia que vem ao longe...

Adormeço enrroscada a uma árvore nua, o Inverno levou-lhe a folhagem pobre coitada, mas continua firme aqui no meio da praça como eu continuarei de luto caminhando mas sempre firme... como esta árvore que me abraçou a noite toda e me acordou para a vida quando a vontade de existir era tão pouca...


(nos pequenos nadas encontramos razões para nos mantermos vivos)


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