Amanheceu librina madrugada

Data 12/05/2007 19:27:42 | Tópico: Poemas -> Amor

Onde foi que dormiu a sacra madrugada
que não te fez meu, amor?
Que lua desatenta, acorrentada,
se negou a ser farol de ti,
imbricado em neblinas
nos terços mais ocultos e confessos,
rezados de mim, amado?

Amanheceu librina madrugada
no linho de velas bolinas dum barco.
Matinou na roupagem alva de um moinho.
Madrugou-se murcha, mirrada
no fulgor brando, nos veios e nas quedas d’agua.
No cerrar obsessivo dos dentes.
Na vacuidade de mãos escoadas na essência
de incenso e rosas bravas.

No horizonte, perpetuam-se nebulosas
em pedras agremiadas da montanha. Rebolam-se
sorrisos nos dentes fincos aos cabelos de astros.
Em luzes, matizes entre o cetim e o alabastro.

Já não me basto!
Declinam-se-me os sentidos,
dilacerados p’la hélice da paixão e do martírio.
No despropósito, no lampejo do delírio.
Na cor do linho.
Na cor do lírio. No cheiro
da mirra e no incenso.
Não me pertenço! Deslizo
no palmilho vítreo do desejo. Intenso.
De curvar fêmea,
chuva da vida a escorrer diurnas estrelas
na pele do ventre. Nos pulmões asfixiados.
Nos seios suplantados na tua mão, ampla, infinita.

Dá-me a tua mão, amado. Partamos de seguida,
rumo à neblina, rumo ao epicentro da frágua.
Que um dia deixaremos nesta vida, amado,
versos, flores, águas escorridas e roseiras de mágoa!



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