sou um louco que sabe tocar acordeão (3)

Data 15/03/2009 21:23:53 | Tópico: Poemas

POR VEZES DOU DE BEBER AOS PÁSSAROS PELA MINHA BOCA; dou de comer aos canibais pela minha mão.
há quem diga que os loucos não mentem...eu digo:
os loucos sonham em ser muitos.
eu por mim sou Eu mais o Eu que hei-de parir;
pela circunstância da noite fria perguntar-lhe-ei as horas



ÀS VEZES confundo arte com conhaque
Arte é dor que vai doendo
Conhaque é conhaque
Que pensará o fósforo quando se acende?
Realmente é tudo uma questão de se lhe perguntar
Um velho acamado espera a sua justiça
As infâncias raramente se acham
Nada tem de negativo
É apenas uma questão
Que terei de colocar a um fumador de charutos
De preferência cubanos
Com Havana em espiral movimento
E o Fidel quase morto ainda aceso

Ponho um lápis na orelha
E finjo-me poeta
Terei de rever as minhas análises
O sangue perfeito
O motor ainda dá
De amores não acusa nada
Na gaveta tenho inúmeros verbos
Se calhar mal conjugados

Arrisco?
Às vezes dou uma passa no cigarro e aperto os lábios
Tiro fotocópias à minha cabeça e falo com ela
Do duplicado escolho o mais feio
Fico então com a impressão que a escolha é de arte
Depois de ler Cruzeiro Seixas vejo que não
Que não há arte nenhuma nos cabelos que ficaram
na lente da fotocopiadora

Os monstros são só para criar cenários
A pornografia é um estado de alma
E Galileu tinha muita alma com certeza
Os versos das meninas do bar sete são compostos por exageros
Empastam a tinta entre os dedos
Sujam seus caracóis e publicam mesmo assim
Depois do editor cometer o seu crime

Um ladrão ao dar-me um esticão no saco levou-me o braço
Por sorte nasceu outro braço no lugar do outro
Acha que isto é arte?
Estou farto de dizer
Arte é o desenho que faz as varizes
E conhaque é a mesa misturadora dos egos e super egos
Passe bem!


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