Procura-se: Companheiro de Insónias.

Data 14/05/2007 13:14:52 | Tópico: Prosas Poéticas

É já tarde amor, demasiado tarde para se conseguir adormecer, o medo de falhar o sono que não tenho atravessa-me a garganta em repentes silenciosos que tudo ocupam e nada preenchem. É já tarde amor, demasiado tarde para me conseguir abandonar das memórias e lembranças que em flashes de falta e saudade se estendem na minha frente e me agoniam a alma, sinto-a a transbordar de emoções precipitadas, arrepios na espinha dorsal que não deveria ter sentido e bem dentro de mim, algures no lado direito do peito, algo está demasiado pesado, demasiado pesado com as lágrimas que não chorei e devia e com as que hoje a minha alma chora sem que ninguém dê por isso.
Porque é sobretudo tarde para um nunca ou para um sempre, quando as palavras têm de ser ditas não as dizer é um pecado irremediável; porque é sobretudo tarde para me abraçares e manteres apertada no teu colo calando toda esta dor que veio alimentar-se dos meus dias; porque é sobretudo tarde para te dares como eu me dei a ti; porque foi sobretudo cedo, demasiado cedo, para me perderes como me perdeste.
É já tarde amor, as horas arranham os relógios de um tempo que sempre tenho, desde que te foste sobra-me a vida, sobra-me o presente que te dedicava e até o futuro que te sonhava dedicar.
E enquanto o tic-tac silenciador do passar melodioso do tempo envolve o quarto o sono não chega, na cabeça quieta misturam-se imagens, cores, formas de tempos idos, tempos perdidos na espuma de outros dias que o acaso fez chegar a mim e que tu desperdiçaste.

Hoje procuro um companheiro de insónias, não quero que me dê palmadinhas nas costas em sinal de entendimento e compreensão, não quero isso não! Quero apenas que se sente perto de mim, me dê a mão no máximo, me olhe nos olhos talvez e me deixe chorar enquanto o olho até o sono chegar finalmente para depois me aconchegar devagarinho no seu colo e me deixar embalar pelo tic-tac ensurdecedor do melodioso passar do tempo.


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