Não me fales de verdades dissimuladas

Data 15/05/2007 14:37:50 | Tópico: Poemas

Não me fales de verdades dissimuladas
na pele marsupial de desfechas chuvas.
Dos meus olhos emancipados d’abismos
na novidade coadjuvada da saliva.
Da verdade segregada no conluio
das nossas desinquietas bocas.

Não me fales de ansiedades coloridas,
resvalavas sobre o lodaçal do prado
empapado no dilúvio p’las trombas d’águas.

Da prosperidade dos ritmos orquestrais
das garças de fim de verão.
Nem do chão dos arrozais acetinados
em sons finos de cigarras, no cio dos animais.

Fala-me de nós, amado.

De nós, enleados, quentes e francos.
Soltos e loucos, amantes urgentes.
De nós antes do tempo em que jazemos
amortalhados em sudários brancos.

Desse tempo, em que nos amámos,
sumários, isentos – tanto, tanto. Cativados,
dedicados, extremados e extenuados,
a jorrar cristalizados na fonte incessante
da vontade e da procura.
Da mais endémica loucura, reconduzida
nos sons da terra, nos fulgores dos céus,
ao azimute apogeu. Nas noites de luas cheias.

E por fim, de nós nos trilhos do tempo, descarrilados.
De um tempo que nos compôs ausentes gentes,
actores em palcos trocados, em terras de Vera Cruz.

Fala-me amado. Fala-me na voz das açoteias,
terraços espelhados de luz.



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