Mórbido Desejo

Data 23/03/2009 23:48:43 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Conceda-me uma faca, meu Deus

Abençoada, brilhante e afiada

Que atravesse as veias, sem dó

E ao coração desate o nó

Para que fiquemos mais aconchegantes

Quando retornarmos ao pó

Quando distâncias tenderem a voltar

E onde fica a amada?

Numa alma perturbada?

Nos berços da ilusão, será?

Na solidão?

No amar?

Ouça minhas preces, Senhor!

E conceda-me a faca

Quem sabe cante eu o corte da vitória?

No final de uma dura corrida?

Quem sabe eu destroce a minha memória?

Quem sabe eu assassine o amor?

Mórbido e triste?

Puro e sem maldade!

Apenas querendo uma faca

Para matar a dor

E feridas coçar

Para cicatrizar

Queria você me querer?

Para depois sofrer?

Leve a faca querida

E em seu gume, restos de minha ferida

Para seu quarto enfeitar

E seu ar perfumar

Com o verdadeiro odor de uma coração

Podre que pode...

Podre que pede...

Sangue puro, quente e vermelho

Já olhaste, querida?

Seus olhos profundos no espelho?

Consegue ver as veias vermelhas?

E a pupila dilatada?

Que o espírito denuncia?

Seus olhos falam, sabia?

Leve, garota, a primazia

De uma veia podre jorrando sangue de ópio

Sangue de lágrimas

Faca que alivia as lástimas

E deixam lembranças de um funeral

Assim como faz uma rosa branca

No lar de uma família de ossos

Para alegrar a casa

E ilusões satisfazer

De um coração deturpado sentindo-se mal

Dentro do peito de um animal

Selvagem e mórbido?

Tá certo!

Humanamente racional!



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