SE TODOS FÔSSEMOS POETAS

Data 24/03/2009 16:44:31 | Tópico: Poemas

Se todos fôssemos poetas falaríamos a mesma língua
Saborearíamos o mesmo nectar
Ao lado das abelhas e dos colibris
Nossos lábios seriam adocicados
E nossa saliva lembraria o samburá
Nossa voz entoaria o mesmo som da estridência da cigarra
O mesmo piar ou o grito do sagüi
E sobejaríamos o sal no lambedor das cabras.
Se todos fôssemos poetas ouviríamos do vento o segredo da chuva
Adormeceríamos no soturno sem sentir solidão.
Se todos fôssemos poetas contaríamos as estrelas todas as noites
Nos banharíamos com a argêntea luz da lua.
Se todos fôssemos poetas não mancharíamos os mares com o sangue das baleias
Nossas almas copulariam
Os rios fariam festas
Os raios nos acolheriam
Uma flor sorria ruidosa com um riso aveludado
As estrelas distanbtes ficariam enciumadas do nosso amor.
Despertaríamos sem preguiça, sem fome e sem medo
Iríamos ao riacho lavar a timeidez
E retornaríamos mais novos do que quem se banhou no Ganges.
Se todos fôssemos poetas contemplaríamos o sol a despontar
Sem medo do câncer de pele
Do buraco no ozônio
Do augúrio da cartomanate
Ou da cigana que leu em nossa mão suja de graxa.
Se todos fôssemos poetas pisaríamos os ramos não as serpentes
Não nos envenenaríamos com sua peçonha
Nem com a poluição dos lagos.

Se todos fôssemos poetas
Deixaríamos a capivara devorar nossa plantação
A ferrugem corroer nosso ouro
O chimpanzé andar de mãos dadas conosco
Nos sete-palmos ficaríamos imaginando o que seria quando brotássemos.

Se todos fôssemos poetas não esperaríamos chover maná
Nossas lágrimas regariam os campos
E os gafanhotos poupariam nosso pomar
O amanhã não seria futuro, apenas um dia como hoje.
Se todos fôssemos poetas beijaríamos nossas namoradas
Amaríamos nossas esposas
Alimentaríamos nossos filhos como fazem os pelicanos.


JOEL DE SÁ
24/03/2009.


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