a mim ninguém me manda à meta

Data 27/03/2009 14:19:38 | Tópico: Textos

Ao pegar na caneta e ao abrir a página em branco decidi não falar de nada, não pegar em qualquer desalinho espigado de emoção superficial e pensei: como é bom às vezes não pensar em nada!

Abrir a boca para dizer nada! Curioso é, que quanto menos penso, menos quero pensar. Que se lixe os acidentes,
os acidentados,
as pontes quase a cair,
o grito ensurdecedor dos violados, dos operários, dos famintos,
dos barrigudos.

O meu voto é não pensar,
nem pestanejar sequer. Nem os descalçados, os kamikazes, os ensanguentados, os decapitados, os falsos pedintes me fazem inclinar o olhar. Ninguém e nada, nadinha deste mundo e do outro me alterará o sentimento.
Nada vezes nada.

Prefiro-me emborrachar com nada, com vontade nenhuma. Não quero saber quem sou,
se sou ou não sou auto-criminoso, se sou ou não sou convencido, se tenho ou não tenho ou se quero ter aquilo que nunca terei.

Nada me importa.
Nada me diz sobre isto ou aquilo.
Estou-me marimbando se vou vencer na vida ou não. Nem quero pensar.
Não vou franzir a testa por coisa alguma, por doença alguma temo.
Que me piquem os insectos, que me façam bruxarias, maus-olhados,
que me torçam os dedos todos, etc. Que se lixe quem ganha ou quem perdeu,
porra para os sinais vermelhos, verdes e amarelos. Merda para mim, merda para todos, os que lêem e os que escrevem, os que traduzem e os que publicam, os que vão à missa,
os falsos padres, as baleias, os polícias, os que partem os que ficam. Todos,
todos e mais alguns.
Porque agora não quero puxar pela cabeça. Não quero que o meu cérebrozinho sofra mais atentados vindos de toda a parte.
Quero ócio a derreter-me a carne!

Resumindo, não pensar é também ele um assunto sério, é como uma lavagem self-service: limpa e enxagua os espelhos e retrovisores da alma que teimosamente ganham crostas de atitudes e vícios encenados pelos tiques sem que a gente dê por isso.

passe bem!



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