E depois do adeus?

Data 06/04/2009 22:35:47 | Tópico: Textos

Digo adeus ao mundo cinzento da indiferença fria; dos sorrisos falsos e dos abraços de mentira.
Separo-me das discussões sem sentido, dos gritos de angústia e da violência aleatória do ego.
Deixo para trás a agressividade latente nas filas dos autocarros, nos escritórios dos edifícios envidraçados, debaixo dos tectos onde pais e filhos se cruzam.
Digo adeus às multinacionais gigantescas que infinitamente estendem os seus tentáculos, sufocando comunidades, nações, números incontáveis de seres.
Despeço-me dos interesses e das ambições; divorcio-me dos medos, dos rancores, dos anseios e desejos, rectrospectivas e perspectivas; deixo para trás sonhos e intenções, marcas, modelos e raças, diferenças e semelhanças, todos os prazos e projectos - acabados, por acabar, por começar ou planear.
Digo adeus a todos os rios conspurcados, a todas as árvores decepadas, aos ocenos enegrecidos e às cidades obscuras.
Abandono o universo inteiro, esqueço-me de galáxias e mundos, da minha própria alma, coração e espírito; até do sonho de ser maior ou alguém de todo.

Vede a minha alma a flutuar para além de tudo, muito mais além...

E agora? Quem sou eu e para onde me dirijo? Depois do adeus a todas as coisas do mundo e de fora dele, todas as coisas físicas e etéreas, que caminho resta ao homem vazio? Continuo aqui, há-de haver uma estrada a percorrer. Onde me levará ela? Na ausência de tudo o resto, quem sou eu agora?
Uma alma de gavetas vazias. Sem conteúdo, haverá contornos a delinear o vazio?



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