SINOS, MESTRES, ALUNOS, MEIO FIO E A LONGA ESPERA
Data 03/04/2009 00:27:10 | Tópico: Poemas -> Amor
| Bateu o sino, como todos os dias fazem os sinos Acabou a aula, durou tão pouco, não aprendi nada Aqui nesse meio fio, na porta da escola, já fechada Tô esperando alguém me buscar, quero sair daqui Talvez numa van, uma kombi bem velha ou a pé Numa carroça de burro ou num carro de boi Ainda sou criança, bem criança, com muito medo Ainda tenho medo de ter medo, nem pensei em crescer
Hoje o sino da escola não irá bater mais, acabou a aula Mais tarde no centro da cidade e nos melhores bairros Outros sinos irão anunciar alguma coisa, sempre batendo Enquanto alunos famintos e professores divorciados dos livros Tentam inutilmente ensinar e aprender alguma coisa, bateu o sino Ainda estou aqui, esperando alguém me buscar e me tirar desse lugar Preciso rápido que me ensinem o caminho calmo e pacífico do ir e vir Nesse meio fio não tem quadro negro, só grandes mestres que nada sabem
Alguém diz que o giz também acabou, não há mais nada a escrever E o sábio pássaro passa rápido e conta que o mestre não sabe de nada Só resta ao tempo que irá testar a todos dar a nota dez sem o “um”, sem medo Quando não se sabe para onde ir, todos os lugares estão reservados, todos servem Quando se está perdido, o desconhecido é caminho igual, é a melhor saída Alguém que nada sabe, quando sabe disso, vira mestre e passa a ensinar Pobres mestres, que sem mestres, tentam de todos os jeitos aprender e a ensinar Alunos e mestres sem notas, sentados num meio fio, esperando o trem da ida
O futriqueiro de plantão, sem esperança, naquele dia não foi amar Não sabia escrever, não sabia ler, sabia muito, gostava muito, sabia amar E eu pequeno e único aluno de grandes ideais, filho do povo, alma comum Também queria aprender amar, guardar a mochila, embrulhar os livros E sentado no meio fio, desenhar o caminho da longa estrada do nada, do acaso Que é o caso mais sério da escola cigana, que vai mudando de rumo pra não ter lugar Quando o sino da minha escola bater pela última vez, vou pedir esmola, pedir aos miseráveis Me levem daqui, ensinem ao saber, façam do meio fio a esquina do saber de todos os mestres.
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