MENSAGEM

Data 04/04/2009 00:19:11 | Tópico: Prosas Poéticas

MENSAGEM


Aquela aula de Ciências Naturais ficou-me na história.
Decerto a única aula dessa matéria de que guardo uma imagem clara.
Das sábias considerações que a professora terá feito sobre a estrutura da caveira, nada ficou. Aliás duvido que tenha estado minimamente atento à lição, porque a alma da caveira tomou absoluta conta de mim – possível necessidade de assumir as profundas do drama que ela expressava e inelutavelmente envolvia a minha pessoa.
As actividades físicas ou fisiológicas que o seu passado mais ou menos distantes pudesse sugerir, essas mesmo, o tempo espiritualizou-as.
Mas os olhos, ou melhor, os buracos aonde eles brilharam, são a recordação mais viva que guardo.
É que, não sei se há 100,200,ou 5oo anos, eles viram, deslumbraram-se, na simplicidade ou na intelectualidade do cérebro que habitou o vazio que “enchia” agora aquele crânio.
Fosse qual fosse o desenvolvimento desse cérebro, aqueles olhos algum dia sorriram com a coisa simples que é o esvoaçar de um estorninho, como se deliciaram ante um belo busto de mulher (vamos presumir que de um homem se tratasse).
Nos 15, 16 anos que então teria, decerto reflecti que a humana criatura que deu vida àquela caveira, algum dia foi criança e, como tal, amada e estremecida nos braços de uma mãe, e algum dia vibrou ao sublime aceno do amor humano.




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