Recordo as madrugadas dos teus olhos

Data 17/05/2007 19:07:16 | Tópico: Poemas -> Amor

Recordo as madrugadas dos teus olhos
onde repousavam lírios estremunhados
num ninho de platina ruborescida.
Searas maturas a despertarem
um só olhar. E o silêncio brando,
nos dedos avolumados p’lo desejo
em que me percorrias a pele
ténue, num murmúrio de folhas livres.

Numa brida
Num bafo de vento
Num beijo
dum tempo próprio de harpas e violinos.
No toque, no porte. Majestoso,
sobre as folhas
amareladas dum livro valioso, voluminoso
uno, incomensuravelmente fino - um livro,
um traçado, um destino. Peregrino,
em que os teus dedos postergavam
aureolados de cor seráfica
espaços ocos, demolidos,
porões cavos, na fome dos braços,
d’infindos abraços.
Na fome dos poros aluarados
em contrafortes. Desembrulhados em mística.

Em que se esculpiam artes no declinar dos corpos.
Em que, nas planícies rasas se tocava Wagner
em orgânicas apoteoses de harpas solares.
Na hora corpórea, crepuscular.
E por fim, desta declinante, em danças tribais de luares.

Recordo as madrugadas dos teus olhos
na voz silenciosa do prazer descalço,
nas relvas primitivas
desenhadas no meu ventre de mulher.

Ogivadas, epigrafadas, indecisas…
Temerosos em acontecer!



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