BALADA DA SAUDADE (reflexo de "Balada de neve")

Data 07/04/2009 09:44:48 | Tópico: Poemas

(Em homenagem a Augusto Gil [1873-1929], autor da belíssima "Balada de Neve", que sempre embalou o meu mais precoce amor pela poesia... uma réplica humilde, só autorizada pela inspiração que tão sublimes versos me iluminaram...)



BALADA DA SAUDADE


Bate mansa, triste e leve,

como quem chora por mim.

Será chuva? Será neve?

Neve não!, não é tão breve,

e a chuva não dói assim.



Será só melancolia,

que com frio e jeitinho.

se chega, muda e fria,

trazida pla ventania,

ao calor do meu cantinho...




Quem bate assim, docemente,

com a íntima certeza

de quem conhece a gente?

Não é dor o que se sente,

e há nela certa beleza...




Ah!... A saudade sorria

velada por fino véu,

branda e leve, branda e esguia,

há quanto tempo eu sabia

o seu toque de Morfeu!




Traz na mão argêntea taça.

Of'rece um gole de vinho,

e enquanto minh'alma abraça,

bebe a lágrima que embaça

os meus olhos, de mansinho...




Fico dormente, sem ais,

entrego-me, sem esperança,

e os meus alentos vitais,

por muitos instantes mais,

são réus da sua cobrança...




E de lábios inda feridos

pelo bordo de flagelos

do cálice dos meus sentidos,

sinto o abraço comovido

da saudade, em desvelos...




Mansa saudade, que é dor

sem me doer tanto assim!

Pois não me traz o calor

dos teus beijos, meu amor,

mesmo só dentro de mim?!...



E me entrego, dócil presa,

À saudade, em oração.

No rosário da tristeza

vou desfiando a certeza:

Estás no meu coração!...










...sempre...


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