Avós

Data 18/05/2007 23:40:49 | Tópico: Poemas

O pomar está cheio...
As árvores cantam a chuva
Nos dias que passam perdidos,
Nos campos rasgados pelo arado.
O esvoaçar dos pássaros pelo meio,
Que vão bicando grainhas de uva,
Por entre os ventos revoltados
Que adormecem no montado.

Alongam-se as jornas…
Os dois bois que puxam a charrua
Ornam o horizonte que se funde no céu,
Misturam-se cores de fim de dia.
As manhãs são agora mais mornas,
Os velhos no adro da igreja, na rua,
Falam do antigamente, senhoras de véu,
Dinheiro que não se contava, mas dividia.

Pão na mesa…
Calejado… do dia anterior
Deixado endurecer para açorda,
Chouriça e queijo no fio da faca.
À noite, a luz do candeeiro acesa,
Junto à lareira, a sentir o calor,
A velha cozinheira gorda
Senhora simpática, bonita, fraca.

Corpos que ressacam…
Dores sem as quais não se vive
Afagadas com um copito de tinto,
Remédio sagrado dos nossos avós.
Arcaicas mezinhas que nos cicatrizam,
Que nos lembram como se sobrevive,
Que alteiam o digno instinto
Lembranças que não nos deixam sós.




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