«« Morta sem estar morta ««

Data 12/04/2009 09:52:45 | Tópico: Poemas




Morta sem estar morta!...
Vulto negro, pouco importa
pedaço de carne que sobra
na travessa de quem come.

Roubaram-me até o nome
numa fome que consome.
Que me consome em vida
por ser uma raiz estendida.
Daquelas: que não se dobra
que incomoda.

Morta na ignorância
morta na arrogância
tantas vezes na inconstância.
Outras tantas na ganância.
Morta no desapego
que se tem no desassossego:
Do que pesa no coração.
Do que foge da nossa mão.

Ao perder a utilidade
o vaso usado se quebra.
Não nos satisfaz mais a vaidade...
Deixou de ser à nossa vontade
não mais se enche de terra.

Mataram-me com desamor!
Viraram os olhos à dor
de quem busca a sua sorte.
Como quem caminha prá morte
levada no vento norte.

Sempre igual!...
Igual no ideal
na afeição
dos que trago no coração.
Mesmo quando digo não.
Mesmo quando finjo não ver.

O vento
não se pode prender.
Muito menos, a agua a correr
numa ribeira bravia.
Igual!...
Ninguém me domina
talvez seja sorte ou sina
mas; sou eu e sou assim.

Morta…
Mas continuo aqui
na espera...
Que se lembrem de mim
no dia em que por fim morri

Antónia Ruivo


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