TERMINAL

Data 14/04/2009 14:03:20 | Tópico: Poemas -> Reflexão

(Para LMS.)

A Morte dia a dia retoca
Sobre teu corpo, inexorável aquarela;
A ti dá brilhos ausência de brilhos
E pinta-te nos olhos sombras amarelas.

Tua voz e teu pulso cada vez mais se calam,
Menores se tornam e mais fracos nos falam;
A pele fria denuncia-te o destino:
Tua energia te foge dos órgãos falidos.

Veda-te as entranhas do próximo futuro
Uma massa neoplásica imponderável;
Sobre a Terra te acabas, amigo,
Prestes estás a conhecer o Inefável.

Sinto-te farto das mãos que te apalpam,
De injeções de esperanças equivocadas;
Sofres demais, sei que é uma lágrima
Teu sangue que pinga da agulha trágica.

Ah, são tantas as sondas !
Tantos tubos incômodos, tantos líquidos
Escorrendo-te às gotas pelas entranhas !
Queria que soubesses que me senti inseguro
Quando, rebelde, arrancaste tudo
E depois perguntaste, com os olhos falhos:
“Para quê isso, faz sentido isso ?”

Não sei bem a resposta, e a pergunta devolvo
A ti, que logo saberás mais um pouco
Do que nós, homens grandes ignorantes,
Que inutilmente ousamos desafiar tua morte.

Somos todos sobreviventes provisórios;
Temos todos nossas sondas e nossas lágrimas;
Vamos todos morrer: a diferença é a hora
E a maneira pior ou a melhor maneira.

Valerá a vida, a vida pela Vida ?
Para quê isso, faz sentido isso ?
Nossa resposta é “sim”, pois nos mantemos vivos,
Mesmo sem atinarmos com o sentido que sentimos nisso.



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