As metades do inteiro

Data 17/04/2009 15:21:26 | Tópico: Poemas

Tenho meia cara a olhar para mim.

A outra meia não tem olho ou sonho
E escurece quando tem que mostrar alma
Ou algo que tenha atrás da sombra afim.

Recuo meio passo por receio de medonho.

O outro meio não cabe na falta de calma
E segura-se para não se estatelar no chão
Ou em algum sítio que me sai fora da mão.

Tenho metade de uma voz a gritar-me aos ouvidos.

A outra parte silencia as palavras retidas
Em invólcuros rudes, de metal vestidos
Que amordaçam todos os desejos e vidas.

Decido deitar-me em meia cama
Numa tentativa de adormecer fora do esquecimento.
A outra meia está cheia de companhia sem chama
Que lá não estava num, outrora, qualquer momento.

Calha-me a clarividência não estar dividida
E conseguir abraçar-me com os braços todos
Para poder agarrar-me aos cornos da investida
Se que seja derrubado pela força de galopes doidos.

Valdevinoxis



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